ANATOMIA DE UM AGRESSOR COM ARMA BRANCA
Um ato de violência assustador, o esfaqueamento tem assombrado sociedades durante séculos, deixando um rasto de cicatrizes físicas e emocionais que exigem uma compreensão mais profunda dos complexos fatores psicológicos que estão envolvidos. A simples menção da palavra “esfaqueamento” pode causar arrepios, evocando imagens de medo e dor.
Existe um traço comum entre muitos indivíduos que cometem esfaqueamentos, que consiste na presença de um histórico de impulsividade e dificuldade em controlar a raiva. Muitos agressores também apresentam traços associados ao transtorno de personalidade antissocial, como falta de empatia, desrespeito às normas sociais e tendência a manipular os outros.
Muitos agressores têm histórico de abuso, negligência ou exposição à violência durante o seu percurso de vida. Estes traumas precoces podem reconfigurar o cérebro, alterando a forma como a pessoa percebe e reage às ameaças, reais ou imaginárias.
Transtornos como, personalidade borderline, que se caracterizam por emoções intensas e instáveis, podem aumentar o risco de explosões violentas. De forma semelhante, os indivíduos com esquizofrenia paranoide, podem apresentar delírios que os levam a perceber ameaças onde não existem, podendo desencadear uma resposta violenta. É importante compreender, que ter uma condição de saúde mental, não torna automaticamente alguém violento. A grande maioria das pessoas com problemas de saúde mental nunca agride ninguém. No entanto, quando ocorre uma combinação com outros fatores de risco como: abuso de substâncias ou história prévia de violência, certas condições podem aumentar a probabilidade de comportamentos violentos.
No cerne de muitos incidentes que envolvem armas brancas, está um potente cocktail de emoções: raiva, ciúme e medo. Estes sentimentos poderosos, podem sobrecarregar o pensamento racional de um indivíduo, levando a ações impulsivas e violentas. A raiva, em particular, desempenha um papel significativo em muitos esfaqueamentos. No calor do momento, agarrar uma faca pode parecer a única forma de expressar a intensidade da própria ira ou frustração. O ciúme também pode ser um motivador poderoso. Quando o ciúme sai do controlo, pode levar a comportamentos possessivos e violentos, com o esfaqueamento a servir como uma expressão distorcida de: “Se eu não posso ficar contigo, ninguém pode”.
O medo, embora talvez menos óbvio, também pode levar alguém a esfaquear. Em situações onde o indivíduo se sente encurralado ou ameaçado, ele pode atacar com qualquer arma que “esteja” à mão, incluindo uma faca. Vingança e retaliação, formam outra categoria significativa de motivação. Para alguns indivíduos, o esfaqueamento torna-se uma maneira de acertar contas, infligindo dor àqueles que eles acreditam tê-los prejudicado.
Dinâmicas de poder e controlo, frequentemente estão presentes em casos de esfaqueamento, particularmente em situações de violência doméstica. Para os agressores, empunhar uma faca pode ser uma forma de afirmar domínio e incutir medo nas vítimas. Álcool e drogas podem reduzir as inibições, prejudicar o julgamento, e amplificar as tendências agressivas. Muitos esfaqueamentos ocorrem quando o individuo está sob efeito de substâncias, levando a que os indivíduos intoxicados venham a agir por impulso que normalmente suprimiriam.
A resposta de luta ou fuga desempenha um papel crucial em muitos esfaqueamentos. Este mecanismo primitivo de sobrevivência, prepara o corpo para confrontar uma ameaça ou fugir dela. Em situações de perigo ou stress elevado, essa resposta pode ser acionada, inundando o corpo com adrenalina e cortisol. Para alguns indivíduos, especialmente aqueles com história de violência ou fraco controlo de impulsos, a parte da “luta”, pode manifestar-se como um ataque com faca. A descarga de adrenalina pode criar um efeito de visão em túnel, onde o pensamento racional cede lugar à ação instintiva.
As distorções cognitivas, e os padrões de pensamento irracionais, frequentemente entram em jogo durante os atos violentos. São formas pelas quais as nossas mentes podem distorcer a realidade, levando a conclusões erradas e a respostas inadequadas. Outra distorção cognitiva comum é o “raciocínio emocional”, em que a pessoa assume que as suas reações emocionais refletem a realidade.
A dissociação e o desapego, são fenómenos psicológicos que podem ocorrer durante stress extremo ou trauma, inclusive durante o ato de esfaquear. Alguns agressores relatam sentirem-se como se estivessem “a observarem-se a si mesmos” de fora do corpo ou vivenciando uma sensação de irrealidade durante o ato. Este distanciamento pode facilitar a execução de ações violentas que normalmente seriam repugnantes para a pessoa. O impacto do stress e da adrenalina na tomada de decisões não pode ser subestimado. Sob stress extremo, o córtex pré-frontal (responsável pelo pensamento racional e controlo de impulsos) pode basicamente “desligar”.
O ambiente em que uma pessoa cresce e vive pode influenciar profundamente as suas atitudes em relação à violência e a probabilidade de se envolver nela. Em algumas comunidades, levar uma faca pode ser visto como algo normal no dia a dia, seja por razões práticas ou como símbolo de “dureza”. Esta normalização pode reduzir a barreira psicológica para usar uma faca em situações de conflito.
Os fatores socioeconómicos também desempenham um papel importante nos crimes violentos. Áreas com alta pobreza, oportunidades educacionais limitadas e falta de apoio social, frequentemente apresentam maiores índices de criminalidade violenta. Não porque as pessoas nessas áreas sejam mais violentas por natureza, mas porque o stress e o desespero associados às dificuldades económicas criam condições em que a violência é mais provável.
A cultura de gangues, tem grande influência nos esfaqueamentos em áreas urbanas. Dentro desse ambiente, a violência pode ser vista como meio de ganhar respeito, resolver disputas ou defender o território. É crucial entender que esses fatores socioculturais não operam isoladamente. Eles interagem com fatores psicológicos individuais, criando uma teia complexa de influências que podem levar ao comportamento agressivo.