sábado, 30 de março de 2019












Enfermagem Forense




quinta-feira, 14 de março de 2019

NEUROBIOLOGIA DA AGRESSÃO SEXUAL

O corpo humano reage à agressão sexual muitas vezes de formas contraditórias. Entender o efeito do trauma no cérebro e no corpo pode ajudar os juízes a entender as reações das vítimas. É importante que juízes, advogados, agentes da lei e outros profissionais que trabalham com vítimas, compreendam a neurobiologia de eventos traumáticos, como a agressão sexual e a violência doméstica, para que possam colocar o comportamento das vítimas no contexto adequado. 
Trauma e medo causam mudanças específicas de curto e longo prazo no cérebro que afetarão o comportamento da vítima. Quando esse comportamento não é consistente com o esperado, a veracidade da vítima pode ser questionada. Comportamentos como versões inconsistentes de eventos, falta de expressões faciais e uma falta aparentemente incompreensível de resistência ao ataque, podem causar dúvidas quanto à versão dos eventos da vítima. Estudos sobre a neurobiologia da agressão explicam as causas por trás desses comportamentos, que são comumente vistos em sobreviventes de agressão sexual.
A maior parte das pesquisas sobre a neurobiologia da agressão sexual são realizadas em sobreviventes adultos que sofreram agressões em crianças. Embora a agressão sexual possa acontecer em qualquer idade e em qualquer gênero, a maioria das vítimas é do sexo feminino (82% de todas as vítimas juvenis e 90% das vítimas adultas). Os estudos atuais começam a centrar-se nas características únicas que podem encontrar-se nas vítimas mais velhas. Em primeiro lugar, o abuso sexual repetido, causa danos traumáticos ao cérebro, e portanto, uma vítima idosa pode ter sofrido abuso quando era mais jovem, ou pode sofrer abuso contínuo, devido à incapacidade de denunciar o abuso causado por um comprometimento expressivo da comunicação. 
As vítimas mais velhas têm maior probabilidade de apresentar Transtorno de Stresse Pós-Traumático, possivelmente devido a uma redução na resiliência. Alguns estudos analisam o efeito deste tipo de trauma em indivíduos com deficiências cognitivas (que podem afetar algumas vítimas idosas), particularmente em casas de repouso. 
É importante analisar o impacto que o trauma apresenta sobre o hipotálamo e a glândula pituitária, e como isso afeta os níveis hormonais, os níveis de cortisol, a codificação, a resposta e a memória. O hipotálamo ou centro de comando, notifica a glândula pituitária de que está a ocorrer um ataque traumático. A glândula pituitária, por sua vez, notifica a glândula adrenal de que um evento traumático está em curso e que existe necessidade da libertação de hormonas para ajudarem o corpo a responder ao evento traumático. Os principais produtos químicos são libertados em face do trauma, onde se inclui a adrenalina e o cortisol, para ajudarem na resposta de luta ou fuga, os opiáceos ou a morfina natural para aliviar a dor, e a ocitocina para aumentar os sentimentos positivos.
Estes produtos químicos podem ser libertados simultaneamente, de modo que, além da resposta de luta ou fuga, a vítima pode apresentar uma resposta de congelamento. Os opiáceos e a ocitocina ajudam o corpo e a mente a sobreviver ao ataque através de um efeito entorpecedor. Esta resposta congelada que pode ocorrer durante uma agressão traumática, significa que algumas vítimas ficam literalmente paralisadas de medo por uma condição neurobiológica conhecida como “imobilidade tónica” ou “paralisia induzida por violação”. A taxa de vítimas de agressão sexual que foram afetadas por essa paralisia no  momento da agressão pode chegar a 50%. Porque as vítimas eram incapazes de mover os seus membros, tornou-se impossível para elas contra-atacar, pois estavam literalmente paralisadas ​​pelo ataque devido à “resposta autónoma” do corpo. 
As repetidas agressões podem ter um efeito cumulativo na vítima, o que pode levar a que esta não consiga codificar a informação no contexto ou sequência correta, apresentando apenas fragmentos sensoriais intensos que podem reaparecer periodicamente em pesadelos ou em sons ou cheiros específicos. As vítimas que tenham sofrido agressões sexuais anteriores, podem entrar em modo de congelamento muito mais rapidamente, e portanto, não conseguem relembrar o incidente na sequência adequada. Com o passar do tempo, a vítima pode-se lembrar dos eventos de forma mais organizada. O problema é que quando as vitimas são entrevistadas imediatamente após o incidente e depois passados alguns dias/horas, as entrevistas podem ser inconsistentes devido às respostas de codificação e sequenciamento, que são afetadas pela libertação dos opiáceos naturais. Essa inconsistência é usada para questionar a veracidade do que a vitima relata.
Uma das estratégias nestes casos assenta em esperar alguns dias para realizar a entrevista. As vitimas podem apresentar alterações na expressão facial que indiquem ausência de afeto e emoção. Isto é causado pelo cérebro quando liberta opiáceos durante o evento traumático, o que leva a um efeito entorpecedor, de modo que a vítima parece excessivamente calma, em vez de se apresentar “histérica”. À medida que o efeito entorpecente desaparece, as vítimas podem começar a colocar os eventos numa sequência, mas também podem começar a sentir a dor física e psicológica que o corpo essencialmente bloqueou.
Ao compreender o efeito do trauma no cérebro e no corpo, o comportamento e as respostas exibidas pelas vítimas começam a fazer mais sentido. Enquanto se pode esperar que uma vítima chore e seja histérica, algumas vítimas podem estar excessivamente calmas e até adormecidas devido à libertação de opiáceos naturais. As histórias da vítima podem mudar com o tempo devido a défices de codificação e sequenciamento provocados pela libertação de hormonas no corpo. Finalmente, é importante estar ciente que existe a possibilidade da vítima ter ficado literalmente paralisada pelo medo e não ter conseguido mover os seus membros. O sistema de justiça criminal não deve ser um lugar onde as vítimas de abuso sexual são revitimizadas devido à falta de compreensão da neurobiologia básica do tra

sábado, 2 de março de 2019

Neurobiologia do trauma e a memória

Ainda sobre a neurobiologia do trauma, o processo de memória é afetado pelo trauma. O hipocampo processa informação em memórias. Existe uma codificação para organizar a informação sensorial, e uma consolidação que vai agrupando as informações em memórias e armazena-las. A amígdala é especializada no processamento de memórias emocionais, trabalhando com o hipocampo e ambas as estruturas são muito sensíveis às flutuações hormonais. As memórias ficam fragmentadas e a ativação da memória pode ser imprevisível e traumática. As alterações neurobiologicas podem dificultar a consolidação da memória, a história do que aconteceu pode sair fragmentada ou “esboçada”, o que pode levar a más interpretações como resposta evasivas ou mentira. Todo o contacto que é feito com a vítima pode ser uma oportunidade para ajudar ou então danificar mais. Como poderemos perceber estas alterações neurobiologicas, podem levar a que a vítima entre num ciclo de atrito. “A vítima não faz sentido, a sua história não faz sentido” o que pode  levar a investigação a não acreditar na vítima, o que leva a vitimização secundária do sistema, a vítima irá perder confiança e a investigação poderá arquivar o caso, ou a vítima recusar manter o processo. Esta vítima pode chegar ao serviço de urgência e não conseguir dar uma história coerente, a vítima pode ser interrogada pela polícia e ter dificuldade em relatar com precisão o que se passou e pode ser interrogada por um juiz ou advogado e ter a memória muito fragmentada. Esta fragmentação da memória pode também levar à fragmentação da história. A ciência forense tem que trabalhar com estas razões neurológicas para abordar as vítimas de violência interpessoal.

neurobiologia do trauma

gostaria de deixar aqui uma análise científica do que acontece a muitas vítimas de trauma, chama-se neurobiologia do trauma. Existem regiões do cérebro que são impactadas pelo trauma e a resposta cerebral consiste na tentativa de equilibrar o corpo após o stress libertando hormonas/produtos químicos. No cérebro a amígdala detecta a ameaça e ativa o hipotalamo para que o HPA aumente a resposta hormonal. Algumas destas hormonas/produtos químicos são as catecolaminas (que condicionam a resposta da vítima que pode ser de luta ou fuga), o cortisol (que vai ser responsável por disponibilizar a energia que esteja disponível), os opioides (que vão minimizar a dor) e a oxitoxina (que promove os bons sentimentos e relaxamento). Assim o HPA aumenta as catecolaminas, no entanto este aumento pode provocar danos na memória e pode ter impacto no pensamento racional, aumenta os opioides o que vai levar a uma alteração da resposta da vítima e diminui os corticosteroides que por sua vez reduzem a energia disponível e impedem o funcionamento da imunidade. Este aumento da resposta hormonal pode desencadear um “desligamento” completo do corpo levando a imobilidade tonica. Esta imobilidade tonica torna-se mais comum em vítimas que são agredidas com frequência. Basta então perceber que a resposta que a vítima terá ao trauma tem influência direta pela resposta cerebral do hipotalamo, assim como os níveis hormonais da vítima. Maior aumento de opioides e oxitocina poderá levar a que a vítima não consiga reagir. Toda esta reposta cerebral também tem efeito na memória, uma vez que as hormonas do stress aumentam bastante o que leva ao funcionamento do hipocampo ficar prejudicado o que motiva uma fragmentação da memória. Esta fragmentação da memória vai levar a uma reativação das memórias relacionadas com a agressão, o que pode levar a disparar flashbacks e agravar o stress pós traumático. As alterações neurobiologicas podem levar a um efeito liso ou a emoções estranhas ou a oscilações emocionais. Assim como podem dificultar bastante a consolidação da memória. Os estudos científicos são claros, cerca de 50% das vítimas de agressão sexual sofrem de imobilidade tônica durante a agressão.