quinta-feira, 30 de abril de 2009

Outros efeitos mecânicos dos Ferimentos por bala:

1. Onda de Choque – Comprimem o meio (ar ou tecido) e viajam à frente e nos lados do projéctil. Estas ondas de choque a baixa velocidade não causam grande destruição. Pelo contrário, a altas velocidades geram-se ondas de choque que podem atingir pressões na ordem das 200 atmosferas (20Kg p/cm2). Os órgãos contendo líquidos ou ar no seu interior (bexiga, coração, grandes vãos e entranhas) podem rebentar devido às ondas de pressão geradas.

2. Projécteis Secundários – provenientes de ossos quebrados ou esmigalhados provocam cavidades secundárias e prolongam a extensão do ferimento.
3. Gás da Pólvora – Sobretudo quando a boca do cano se encontra em contacto com um tecido, o ferimento resultante provoca geralmente um grande arrancamento/desvitalização de tecido.

Muitos dos danos provocados por uma bala resultam da perda de estabilidade (cambalhota) e da cavidade permanente. O exemplo mostra os efeitos de um.38 num bloco de barro (como se trata de barro, é possível observar o diâmetro da cavidade temporária).
Quando uma bala atinge um alvo, pode verificar-se uma considerável deformação e fragmentação do projéctil.
A velocidade da bala e a sua massa tem uma relação directa no tipo de ferimento produzido. Entende-se por baixa velocidade quando um projéctil viaja a menos de 330 m/Seg. média velocidade entre os 330 e os 660 m/seg; alta velocidade acima dos 660 m/Seg. Uma munição de calibre 5,56mm NATO está desenhada para produzir extensos ferimentos a alta velocidade, mediante uma baixa massa (instabilidade/cambalhota), produção de cavidade permanente e rápida libertação de energia. Um projéctil de 7,62mm NATO dispõe de uma massa maior para que se possa obter um maior alcance e penetração a longa distância.
O desenho de construção duma bala é um aspecto importantíssimo a fim de potenciar o ferimento. A convenção de Genebra proíbe o uso de munições expansíveis ou deformáveis em tempo de guerra. Por conseguinte, as balas militares dispõem de uma camisa metálica que cobre por completo o núcleo de chumbo. Outra razão para os militares concordarem com este tipo de balas tem mais a ver com questões técnicas do que com a convenção de Genebra (o chumbo começa a derreter por aquecimento a velocidades superiores a 660m/Seg.).
No entanto, existem no mercado munições de baixa e alta velocidade dispondo de balas expansíveis (ponta com chumbo macio a descoberto ou hollowpoint) especificamente desenhadas para se deformarem ao impacto. Tal deformação transmite toda a energia cinética desse projéctil para o alvo.
Exemplos de balas expansíveis
A distância que vai do alvo à boca da arma é também um parâmetro a ter em conta nos ferimentos. A cerca de 100m e para a maioria das balas disparadas por pistolas ou revólveres a perda da energia cinética é significativa, enquanto que uma bala de alta velocidade (7,62mm) disparada por espingarda militar continua a manter um nível de EC elevado após percorridos 500mts.
O tipo de tecido atingido e a perfuração alcançada tem influência na gravidade do ferimento. A elasticidade de um tecido é um factor primordial. Quanto menos elástico e mais denso for o tecido maiores serão os danos produzidos. Por exemplo, os pulmões (baixa densidade e alta elasticidade) sofrem menos danos que um músculo (alta densidade e média elasticidade); o fígado, baço, cérebro e o tecido adiposo não dispõem de elasticidade e sofrem danos facilmente.
Os órgãos contendo líquidos no seu interior (bexiga, coração, grandes vãos e entranhas) podem rebentar devido às ondas de pressão geradas. Uma bala que atinja tecido ósseo pode causar a fragmentação do osso e/ou da própria bala, formando deste modo vários projécteis secundários os quais irão produzir ferimentos adicionais.
Uma bala tem de viajar a uma velocidade mínima de 50mts/Seg. para conseguir perfurar a pele e a 65mts/Seg. para fracturar um osso (ambas velocidades são muito baixas, pelo que outros factores são mais importantes na produção de danos).
Desenhar um tipo de bala para optimizar a sua transferência de energia cinética não é um processo fácil nem padronizado, uma vez que a resistência dos alvos difere. Para conseguir penetrar um osso grosso e coberto por imenso tecido (P.e., um osso de elefante), a bala tem de ter um perfil bastante pontiagudo, de diâmetro reduzido e tem de ser capaz de resistir à desintegração. No entanto, tal bala seria capaz de perfurar um alvo humano sem qualquer dificuldade. Uma bala desenhada para produzir ferimentos em tecido humano, necessita de uma espécie de “travão” de modo a que toda a energia cinética seja transmitida ao alvo.
É mais fácil conceber medidas para desacelerar um projéctil lento e volumoso do que uma bala rápida e pouco volumosa. Tais medidas podem incluir modificações no formato da bala, nomeadamente arredonda-la (round nose), achata-la (wadcutter), afunilar o seu interior (hollowpoint). As balas tipo “round nose” são as que menos “travam” sendo muito usadas em armas capazes de produzir baixas velocidades. São normalmente revestidas por uma camisa metálica. As balas tipo “wadcutter” conseguem uma boa desaceleração ao embater no alvo. Não são encamisadas, são muito utilizadas em competições desportivas e em armas de baixa velocidade. As balas "semi-wadcutter” dispõem de um desenho intermédio entre as “round nose “ e as “wadcutter” e são bastante eficazes a velocidades médias. Graças ao seu modo de concepção, as balas “hollowpoint” deformam-se facilmente (as paredes abrem-se para fora e a frente achata-se ganhando a forma de um cogumelo) ou seja ocorre uma expansão. Uma expansão eficaz ocorre somente a velocidades superiores a 350mts/Seg.