sábado, 2 de março de 2019
Neurobiologia do trauma e a memória
Ainda sobre a neurobiologia do trauma, o processo de memória é afetado pelo trauma. O hipocampo processa informação em memórias. Existe uma codificação para organizar a informação sensorial, e uma consolidação que vai agrupando as informações em memórias e armazena-las. A amígdala é especializada no processamento de memórias emocionais, trabalhando com o hipocampo e ambas as estruturas são muito sensíveis às flutuações hormonais. As memórias ficam fragmentadas e a ativação da memória pode ser imprevisível e traumática. As alterações neurobiologicas podem dificultar a consolidação da memória, a história do que aconteceu pode sair fragmentada ou “esboçada”, o que pode levar a más interpretações como resposta evasivas ou mentira. Todo o contacto que é feito com a vítima pode ser uma oportunidade para ajudar ou então danificar mais. Como poderemos perceber estas alterações neurobiologicas, podem levar a que a vítima entre num ciclo de atrito. “A vítima não faz sentido, a sua história não faz sentido” o que pode levar a investigação a não acreditar na vítima, o que leva a vitimização secundária do sistema, a vítima irá perder confiança e a investigação poderá arquivar o caso, ou a vítima recusar manter o processo. Esta vítima pode chegar ao serviço de urgência e não conseguir dar uma história coerente, a vítima pode ser interrogada pela polícia e ter dificuldade em relatar com precisão o que se passou e pode ser interrogada por um juiz ou advogado e ter a memória muito fragmentada. Esta fragmentação da memória pode também levar à fragmentação da história. A ciência forense tem que trabalhar com estas razões neurológicas para abordar as vítimas de violência interpessoal.