segunda-feira, 28 de setembro de 2015

CRIANÇAS QUEIMADAS

A extensão dos danos provocados por queimadura depende de um número de fatores.

A mortalidade e morbilidade da queimadura está relacionada com a profundidade e extensão da lesão. Existe perda de fluidos e efeitos metabólicos. Queimaduras por líquidos são chamadas de escaldões.

As lesões de escaldão permitem identificar a posição da vítima em relação ao líquido quente. A gravidade dos escaldões depende do tempo de exposição da pele com o liquido quente e a sua temperatura.

A roupa pode evitar o contato direto com o fluido, mas uma vez a roupa ensopada, pode aumentar a duração do contato entre o fluido quente e a superfície corporal. Em muitos casos o contato com liquido quente, momentâneo numa superfície larga cujo o liquido teve contato pode permitir um rápido arrefecimento, a não ser que a temperatura da água seja muito elevada, não existe tempo longo de contato que possa provocar uma grande lesão.
Este fenómeno é importante na investigação do caso, porque pode ou não confirmar a história dos pais, quando dizem que foi acidental.

A história relacionada com a causa é circunstâncias que envolvem as queimaduras é uma parte importante da avaliação.

Perguntas:
Como ocorreu a queimadura
Como a criança teve contato com o líquido
Quanto tempo teve o contato com o líquido
A pele estava protegida por roupa
Quem estava com a criança
Quanto tempo ocorreu entre o evento e a assistência médica

Exame físico:
Localização
Dimensão
Aparência/gravidade
Forma da queimadura

Características das queimaduras:

A forma da queimadura é importante porque o padrão pode indicar que tipo de objeto foi usado
Na imersão forçada as características padrão envolvem as nádegas e os genitais
Podem estar presentes as marcas das mãos desenhadas na pele
A gravidade da queimadura está relacionada com a temperatura do líquido, tempo de contato com a pele e fragilidade da pele
A roupa tende a manter o agente em contato com a pele, por um longo tempo, que pode levar a uma queimadura severa.
A história fornecida pelo cuidador é importante porque a história do que aconteceu pode avaliar a relação com o padrão da lesão

Características padrão da queimadura:

Idade aparente da queimadura
Consistência da distribuição da queimadura com a história
Sinais de contenção
Sinais de imersão em líquido quente
Marca de mão no corpo
Presença de outras lesões
Lesões nas zonas de pregas de flexão
Evidência de maus tratos
Cicatrizes, má nutrição

Indicações de maus tratos:

Atraso na assistência médica
Queimaduras atribuídas a salpicos
Existência de evidências de acidentes anteriores
Lesões incompatíveis com a história
Queimaduras encontradas nas nádegas e região anogenital, joelhos, palmas das mãos e sola dos pés
Queimaduras com contornos e forma definidos
Queimaduras uniformes e simétricas
Queimaduras que são negligentes e infetadas
Grau de queimadura uniforme

Indicações de acidente:

A história e o mecanismo são compatíveis com as lesões
As queimaduras são encontradas na parte da frente do corpo
Podem ocorrer em locais que refletem a atividade motora da criança, nível de desenvolvimento
Queimaduras com múltiplos graus e com zonas não queimadas
Apenas uma parte da pele é danificada
As queimaduras são assimétricas

A pele da criança é 10 vezes mais suave que a pele do adulto e por isso queimam 40 vezes mais. Em muitos casos o contato com o líquido quente, nomeadamente numa superfície larga cujo líquido teve contato pode permitir um rápido arrefecimento a não ser que a temperatura da água seja elevada, não existe tempo longo de contato que possa provocar uma grande lesão. Este fenômeno pode confirmar ou não a história dos pais.

Temperatura da água

60c – 5 segundos
50c – 3 minutos
48c – 5 minutos
68c – 1 segundo.

domingo, 27 de setembro de 2015

Morte em queda sob investigação

Este é mais um caso que se enquadra nos enigmas da ciência forense no que diz respeito à etiologia médico-legal. Importa em primeiro lugar clarificar que quando falamos em etiologia médico-legal falamos em acidente, suicidio, homicidio ou causa indeterminada. Pois bem, neste caso eu chamo enigma, precisamente porque poderemos ter as 4 etiologia médico-legais, e cabe à investigação criminal e à medicina legal desvendar o mistério. A inspeção do local pode ser ou não a chave da investigação, e para que isso aconteça é extremamente importante que sejam tomadas algumas medidas e que sejam colocadas ao investigador algumas perguntas. Em primeiro lugar estamos perante uma morte violenta, mas o que é afinal uma morte violenta? Segundo Genovial França, entende-se como morte violenta a que resulta, directa ou indirectamente, da acção de agentes externos.
“É a morte resultante de acção exógena e lesiva, ou que tal acção tenha concorrido para agravar uma patologia já existente, desde que haja correlação causa-efeito entre a acção e a morte; Entende-se ainda por morte violenta aquela em que não existe violência no sentido físico da palavra, mas cujo descaso (omissão de socorro, por exemplo), foi motivo de causa de morte.” Por seu lado agentes externos são constituídos por uma fonte de energia física, ou química externa, com capacidade, de produzir no corpo humano, lesões anatómicas e/ou funcionais (lesões traumáticas). Podem dividir-se em: agentes mecânicos, agentes físicos, agentes químicos e tóxicos.
A investigação criminal compreende o conjunto de diligências que visam averiguar a existência de um crime, determinar os seus autores e a sua responsabilidade e descobrir e recolher os vestígios. Dito de outra maneira, o objectivo da Investigação Criminal traduz-se pela pergunta: QUEM FEZ O QUÊ?. A resposta a esta pergunta passa pela obediência a uma metodologia, que assenta em regras de análise, que não são mais do que procedimentos destinados a encontrar respostas para outras tantas perguntas:  Quem? Onde? Quando? O quê? Com quê? Como? Porquê?.Em relação à queda poderemos ter: queda sem desnivel e queda de local elevado. Neste caso temos uma suposta queda de 4º andar estamos por isso perante uma queda de local elevado também denominada precipitação. Encontramos ação traumática de natureza contundente, e poderemos ter a presença de lesões traumáticas externas associadas ao local de embate no solo (crânio, membros inferiores, costas, etc), mas também poderemos ter lesões que são provocadas por embate durante a queda, cabe ao patologista forense diferenciar a tipologia das lesões. Nos casos em que existe ausência de lesões externas poderemos ter um fenomeno denominado saco de nozes que se caracteriza por lesões traumática internas. Em sede de  autópsia médico-legal pode-se encontrar nestes casos fraturas multiplas no crânio, tronco e membros e esfacelos de orgãos como o cerebro, orgãos torácicos e abdominais. 
Para a resolução do enigma da etiologia médico-legal se estamos a investigar a possibilidade de suicidio é importante a realização de uma autópsia psicológica da vitima, e neste caso em concreto a investigação criminal deve começar por aqui (autópsia psicológica). Devem ser recolhidas informações junto dos familiares/conhecidos, junto do médico de familia (investigação da possibilidade de doença), e deve-se analisar a existência ou não de sinais de tentativas anteriores, deve-se investigar a existência ou não de estupefacientes/alcool. No caso de suspeita de acidente, deve-se investigar se ocorreu em contexto de acidente de trabalho, e contexto de lazer ou de outra situação (pintar, lavar janelas, montar antenas, etc). A etiologia de homicidio requer uma investigação criminal muito minuciosa, e na ausência de testemunhas oculares por vezes é extremamente dificil provar esta etiologia e joga-se muito na presunção, porque na realidade poucas evidências ocorrem nestes casos. É importante nestes casos saber o peso da vitima, inspecionar bem o local de onde ocorreu a precipitação, perceber se existem marcas nos tornozelos da vitima, se existem danos na roupa que indiciem luta. Deve ser feita uma reportagem fotográfica do local e da posição da vitima, analisar que tipo de roupa a vitima estava a usar na hora do evento. A chave da investigação começa com a autópsia psicológica da vitima.





RECRIAÇÃO DA CENA DO CRIME


Muitas vezes impõe-se também fazer no local do crime uma breve 
reunião entre todos os investigadores de modo a trazer ao conhecimento 
do responsável pela equipa toda a informação recolhida, em termos 
de prova pessoal e material. 
Pode acontecer no final deste processo que não se tenha concluído 
por uma hipótese verosímil ou plausível, mas sim, 
pela necessidade de procurar algum elemento real que, eventualmente, 
não tenha sido encontrado. Neste caso haverá lugar a uma nova busca 
ou inspecção, para localizar o vestígio ou informação necessária.
CROQUIS
Chegados a este ponto há que tomar as notas necessárias (esboço) 
à elaboração de Croquis e de Relatório circunstanciado. Um croquis 
(palavra francesa traduzida como esboço ou rascunho) é uma 
reprodução gráfica, um desenho rápido, feito com o objectivo de discutir 
ou expressar graficamente uma situação ou ideia. 
É conveniente que dele conste a definição das distâncias a que se 
encontram os vários elementos de  interesse, por remissão a pontos 
fixos relacionados com a posição da vítima.
Um croquis, portanto, não exige grande precisão ou refinamento gráfico, 
embora deva ser feito à escala, podendo representar, por exemplo, 
um apartamento em termos de planta, uma sala vista de cima em 
termos de soalho e objectos, ou uma sala completa, com paredes 
e tecto rebatidos.
Por isso se diz que é um complemento da fotografia, em termos 
de fornecer medições distâncias entre objectos, através de 
traços ou linhas que representam o conjunto em apreço. 
São estes documentos, juntamente com as fotografias do local, 
que mais tarde permitirão a reconstituição do crime.

Mulher amarrada morre em casa













Esta noticia tem-se tornado um pouco habitual em Portugal no últimos anos. Parece-me que estamos perante mais um caso de violência doméstica, e se assim for contabilizamos mais uma morte para a estatistica portuguesa. Em média morrem 40 mulheres em Portugal por ano vitimas de violência doméstica, mas estes dados são apenas as mortes imediatas, e não são contabilizadas as mulheres ou homens que morrem posteriormente no hospital, como sequela do trauma sofrido.
Neste caso mais uma vez a reconstituição do que aconteceu terá inicio com a autópsia médico-legal que será realizada e com a atribuição da respectiva causa de morte e etiologia médico-legal (acidente, homicidio, suicidio). Será também importante o exame do hábito externo da vitima para pesquisar sinais de trauma recentes ou antigos que podem indicar ou não a existência de um padrão anterior de agressões. A investigação forense deve analisar o objeto que foi usado para amarrar e amordaçar a vitima, estudando a sua composição, constituição, caracteristicas e origem. Pode dar informações preciosas para auxiliar a investigação criminal do caso.

Outro aspeto importante a observar é o local onde foi amarrada a vitima, que tipo de nó foi dado, em que posição se encontravam as mãos, se existiam marcas de contenção fisica. É essencial perceber se existem sinais de defesa ativa ou passiva (pode indicar se a vitima estava consciente ou não), sinais de luta na roupa e no corpo da vitima.
Em relação à preservação de vestigios na vitima, seria importante proteger as mãos da vitima com sacos de papel para pesquisar a presença ou não de restos de pele debaixo das unhas. Caso tenha existido defesa ativa a vitima poderá ter agredido o agressor e existirem nos leitos ungueias restos de pele que podem ou não ajudar na identificação de um perfil de DNA. Deve ser preservado o material que foi usado para amarrar e amordaçar a vitima (apenas deve ser removido para medidas de life-saving e se for removido nunca cortar pelos nós). A roupa da vitima deve ser preservada, colocando cada peça em saco de papel, identificando e selando os sacos.
A equipa de emergência médica que esteve no local deve identificar a presença de odores que se encontrem no local, e quais as manobras de reanimação que foram executadas (se foram). Se possivel deve ser feito um registo fotográfico do local e da vitima e de ser documentado minuciosamente todos os achados que a equipa encontrou, assim como a descrição do local, lesões observadas, posição do corpo, se foram removidas as roupas, se foram removidas as medidas de contenção que a vitima tinha (amarras e mordaça), se foram realizadas manobras de reanimação, e estado da vitima à cheagada do local, coloração, odores.

Canal no Youtube de videos forenses

https://m.youtube.com/channel/UC_DHGYoJsqR9vV_Do4Be-vQ

sábado, 26 de setembro de 2015

Um agradecimento público ao grupo de pessoas que criaram esta página de facebook. 

https://www.facebook.com/FasdeAlbinoGomes

Caso do homicídio do bébé em Linda-A-Velha, Oeiras. Ausação. MP noDIAP / Oeiras.


O Ministério Público deduziu acusação, com intervenção de tribunal colectivo, contra o arguido que em 08 de Abril de 2015, na casa onde residia em Linda-A-Velha, Oeiras, esfaqueou o seu filho de 6 meses, matando-o.
O arguido agiu motivado por retaliação contra a sua companheira, mãe do bébé, a qual, percebendo que o arguido mantinha consumo de álcool, lhe anunciara querer terminar a relação entre ambos. 
A vítima estava nesse dia a cargo do arguido e nascera em Outubro de 2014.
O arguido executou os factos mantendo o contacto por telefone com a mãe do bébé.
Depois de esfaquear a vítima, e deixando-a assim em casa, o arguido abriu os bicos de gás do esquentador e do fogão da casa e saiu desta.
Procurou a sua companheira e encontrou-a, anunciando que a ia matar.
Não se concretizaram nem a explosão, com a adulteração previsível do cadáver, nem a morte da mãe do bébé face à intervenção rápida da Polícia.
Ao arguido foi ainda encontrado produto estupefaciente.
O Ministério Público imputou na acusação o cometimento pelo arguido, em concurso efectivo, do crime de homicídio qualificado consumado, do crime de explosão e incêndio tentado, do crime de profanação de cadáver tentado, do crime de homicídio qualificado tentado, do crime de tráfico de estupefaciente.
A acusação data de 15 de Setembro de 2015 e o inquérito foi dirigido pela 4ª secção do DIAP da Comarca de Lisboa Oeste / Oeiras.
O arguido encontra-se em prisão preventiva.










Forensic Nursing Process

The nursing process is “A critical thinking model used by nurses that comprises the integration of the singular, concurrent actions of these six components: assessment, diagnosis, identification of outcomes, planning, implementation, and evaluation” (ANA, 2010, p. 66; Lynch, 2006). This concept is applied to the specific processes involved in the clinical investigation of trauma or death of the forensic patient. The structure of the entire forensic nursing process is predicated on maintaining a certain state of mind—an investigative, interpretive, dogmatic search for the facts and the truth (NANDA, 1990). All healthcare personnel must be able to use interview skills and physical assessment indicators to detect abuse and neglect. The application of clinical medicine and nursing involving trauma care of patients including those in legal custody requires detection and documentation of injury and the preservation and security of forensic evidence. This role emphasizes the importance of thinking critically about the legal issues surrounding patient care. A serious gap in the health and justice system has been either left open or only partially filled by health and justice practitioners who are essentially without a forensic background (Lynch, 1995). This arena includes not only nurses but also hospital physicians, midwives, emergency medical technicians, police officers, and attorneys. These individuals must be able to recognize problems in the existing system and raise the awareness of potential solutions.

Polícia sem rasto de casal desaparecido

Fazendo uma analise forense deste caso leva-nos a refletir sobre o seguinte: 1 - A figura do desaparecimento de pessoas encontra-se previsto no ordenamento jurídico português, tendo o legislador decidido consequências para tal acontecimento. No Código Civil para efeitos de presunção de morte temos a seguinte definição: “tem-se como falecida a pessoa cujo cadáver não foi encontrado ou reconhecido, quando o desaparecimento se tiver dado em circunstâncias que não permitam duvidar da morte dela". 2 - Encontram-se previstas no ordenamento jurídico consequências patrimoniais para o desaparecimento de uma pessoa. Nos termos do nº 1 do Art. 89º do Código civil, o acto de ausência sem notícias e prolongado “sem que dele se saiba parte” é relevado para efeitos de se providenciar pela gestão dos bens da pessoa, face ao facto de não ter sido deixado qualquer representante legal ou procurador. 3 - A figura de desaparecimento de pessoas verifica-se mesmo a nível de Direito Internacional vinculativo para Portugal, a Directiva Europeia 2001/C – 283/01, emitida pelo Conselho Europeu em 09 de Outubro, considerando crianças desaparecidas as que encetam fuga, as crianças raptadas por terceiros e as crianças desaparecidas de forma inexplicável. 4 - O desaparecimento por si só não se encontra previsto no ordenamento jurídico português como configurando um tipo de ilícito penal. Subjacentes aos desaparecimentos podem estar situações que configuram a prática de vários crimes, como o de homicídio, o de rapto ou o de sequestro, matérias de competência reservada de investigação da PJ. 5 - Um desaparecimento pode também ter como origem motivações puramente pessoais de pessoas maiores de idade ou ainda surgir pela desorientação de um idoso com capacidades diminuídas, de alguém portador de anomalia psíquica, da ausência de jovens de casa dos seus pais ou de Instituição de Acolhimento, ou de crianças que por várias razões acabam por fugir da esfera de protecção dos seus progenitores. 6 - A primeira fase do modelo de investigação de pessoas desaparecidas é composta pela, 1) comunicação do desaparecimento à PJ através da qual será levada a cabo a respectiva avaliação de risco, 2) a avaliação do risco do desaparecimento, permitindo uma classificação do nível de risco do desaparecimento, possibilitando-se uma decisão sobre as medidas imediatas e urgentes a serem desenvolvidas, 3) a inquirição imediata do participante, de forma a serem obtidas informações pormenorizadas da ocorrência. 7 - Uma ferramenta importante para a ciência forense nestes casos é a autópsia psicológica. Neste caso a autópsia psicológica irá percorrer o ultimo mês de vida deste casal para perceber e avaliar todos os riscos que possam ter existido e que possam ter implicações ou não para este desaparecimento. Iremos abordar este tema da autópsia psicológica noutro post.