Criminalística é a ciência que estuda os indícios deixados no local do delito, permitindo estabelecer, nos casos mais favoráveis, a identidade do criminoso e as circunstâncias do crime. O êxito do trabalho laboratorial depende da forma como os vestígios foram recolhidos, acondicionados e enviados. Para a análise do ADN é necessário qualquer tipo de mancha ou produto que contenha material genético. Os vestígios encontrados com mais frequência, com interesse médico-legal, são as manchas do sangue e sémen.
Sangue
O sangue é o tipo de amostra mais frequentemente analisada, tanto no estado líquido como em mancha seca. O ADN é extraído dos leucócitos do sangue, uma vez que os eritrócitos são células anucleadas. Tais manchas podem encontrar-se em suportes porosos e absorventes existentes na cena do crime, como sofás, tapetes, alcatifas e mesmo na roupa da vítima ou do autor do crime; ou em suportes não porosos como, por exemplo, diferentes tipos de revestimentos de chão ou paredes de residências, vidros ou cerâmicas.
Caso Clínico 1: No decurso de uma investigação de atropelamento, foi solicitado um exame comparativo a partir de uma amostra de sangue.
Por vezes acontece em casos de condução sob influência de álcool, trocas de valores de alcoolemia. Um exemplo é o caso de um atropelamento de uma criança em que é pedida a alcoolemia aos intervenientes, cujo resultado indicou um valor de 3g/L numa criança. Isto é impossível, uma vez que uma criança de 5-6 anos, com este nível alcoolemia não conseguia andar a passear. Neste caso, o que fazer? Muitas vezes, nestes casos, é necessário fazer a identificação da mancha ou do sangue de onde foi retirada a alcoolemia para saber quem corresponde a quem.
Sémen
O sémen (suspensão de espermatozóides no líquido seminal) é a seguir ao sangue o vestígio mais estudado, o que se deve ao facto de haver muitos casos de suspeita de agressão sexual. O ADN a analisar é extraído dos espermatozóides. Por isso, é conveniente efectuar, em primeiro lugar, uma confirmação microscópica da sua existência na amostra. É, também, prática corrente efectuar o teste ou reacção de Brentamina, cuja reacção positiva (presença de células seminais, mesmo na ausência de espermatozóides) se traduz no aparecimento de uma coloração púrpura, numa mancha que se suspeita ser de sémen, depois da aplicação do reagente.
Depois da extracção do ADN do vestígio biológico ou dos exsudados vaginais ou anais, procede-se ao estudo da amelogenina. A amplificação do gene homólogo da amelogenina X-Y, permite concluir que quando estão presentes células masculinas aparecem duas bandas, uma específica do cromossoma X e outra característica do cromossoma Y. Na grande maioria dos casos estudados, a amostra presente para exame é o exsudado vaginal da queixosa, que é colhido aquando do exame efectuado no Serviço de Clínica Médico-legal. No entanto, também pode haver sémen em peças do vestuário da vítima ou do agressor ou, ainda, no local onde ocorreu a violação. O facto das amostras de sémen poderem estar misturadas com outro tipo de produtos biológicos da vítima ou de haver mistura de sémen de dois ou mais indivíduos, não constitui problema para a resolução dos casos. Actualmente, há metodologias que permitem a separação eficiente do ADN dos espermatozóides do ADN das células do epitélio vaginal da violada e, no caso de mistura do sémen de mais de um indivíduo, a análise do ADN possibilita a detecção e identificação dos indivíduos.
Quando existem 2 componentes masculinos numa zaragatoa vaginal de uma alegada vítima de violação, este facto pode reflectir 2 cenários - ou estão implicados 2 indivíduos na agressão sexual ou um dos componentes reflecte uma relação anterior consentida. Este é um exemplo de como a história é importante, nomeadamente, saber há quanto tempo a vítima teve a última relação sexual consentida.